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Agenda Mínima

  • Foto do escritor: Mauricio Guilherme Jr.
    Mauricio Guilherme Jr.
  • 26 de nov. de 2023
  • 2 min de leitura

Atualizado: 9 de dez. de 2023



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 (do projeto Crônicas do Terceiro Ato)

  

Acordo. Pego no tranco. Penso no dia. Melhor não pensar. Tomo café e remédios. Armas pro cotidiano. Olho na agenda as instruções de voo do dia. Me troco e decolo.

   Vou ao mercado. Todos vão. Meus amigos vão. Inimigos vão. Inimigos que, talvez, tenha feito nesta noite, enquanto dormia. Compro o que comer. Graças que ainda posso comer. Nem todos podem. Mas, poderão um dia, quando os que podem lhes derem o que sobrou. Vou ao caixa e pago. Mas quem não paga? Alguma coisa, todos pagarão. Mais dia, menos dia, todos pagarão.

     Passo na farmácia. Inevitável não passar. Quem ainda tem um corpo, passa. Se não passa, adoece. E, às vezes, morre. Para não morrer, melhor usar o convênio e ir ao medico. E o medico pedirá exames infinitos. Quem não pode ir ao médico, não poderá também fazer os exames. Talvez seja mais fácil morrer.

     Daí vem os papéis. Os documentos, os recibos, os telefonemas, as mensagens, as contas... Os e-mails e os cálculos. As antigas gramatica e aritmética na sua pior representação.  

      Mais tarde, vou escrever. Porque mandam, porque pagam, porque posso, porque sonho, porque quero. Queria ficar escrevendo só o que quero pro resto da vida. Talvez sem sair de casa, sem nem sair do quarto. Mas, tenho que olhar lá fora, pro mundo, pra poder escrever. Porque olhar pra dentro pode doer muito, também. E assim vou escrevendo, tentando reorganizar a vida segundo as minhas impressões.

       Quando chega o inicio da noite, me estalo. Adoro brincar com cachorros. Amo cachorros. Mas, tenho alma de gato. Se estiver em casa, me encosto. E se me encostar, cochilo. Como um felino, me esparramo e durmo. Por alguns minutos ou algumas horas. Depende do que quero fugir.

        Tendo o véu negro já coberto toda a cidade, giro a bússola pra saber que direção seguir. O Norte é variável. Às vezes aponta para a pena e o tinteiro, mostrando a hora de voltar a escrever. Às vezes mostra a tela de um cinema, aprisionado na tela de um computador. Ainda em outras, páginas de livros voam pra cima de mim.

       Depois, bem tarde da noite, me aninho pra dormir novamente. Dormir e dormir e dormir... Que seria de mim, se eu não dormisse? Quase sem roupa e um par de fones no ouvido. Algumas vezes, um ventilador. Em outras, um cobertor.

       E o tal Morpheu me leva novamente pras coisas que eu não vivi, pras que eu gostaria de ter vivido, pras que eu espero um dia viver. E pras que eu nunca viverei. Pois, só viverei o que é possível. E o possível recomeça amanhã cedo. Quando meus olhos se abrirem, infelizmente, só para o que é possível.

 

  

 

 

    

    

    

 
 
 

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